quinta-feira, 15 de abril de 2010

num dia primaveril


vestiu aquele vestido de florzinhas ténues, um vestido de cor suave e que ela gostava particularmente. foi ao armário das sandálias, e pela primeira vez nesse ano enfiou os pés desnudados nas sandálias de cunha. eram os primeiros dias de sol, de uma primavera acabada de chegar, e ela sentia-se confiante. carteira a tiracolo, umas gotas de perfume antes de sair, dando por fim um leve jeito com as mãos ao cabelo que já lhe estava demasiado comprido.
já na rua, deixou que a luz do dia a alegrasse ainda mais. caminhava elegante pelo passeio, com um sorriso e um pequeno brilho nos olhos, reparando que quem passava também lhe sorria de volta.

não resistiu a parar na florista da esquina, demorou-se na montra tão atractiva com flores e raminhos tão perfeitos e coloridos, que num súbito impulso lhe apeteceu encher a casa de flores.

foi enquanto escolhia que flores comprar que a imagem dele se lhe intrometeu nos pensamentos, naquele dia que estava a fluir tão bem. imaginou-o ao lado dela, de mão dada, fazendo leves e meigas festinhas enquanto lhe dizia baixinho que lhe queria oferecer um ramo do tamanho do mundo. imaginou os olhos dele bem perto dos dela, sim os olhos dele que ela achava serem os mais lindos olhos à face da terra, sorriu envergonhada como que em jeito de resposta até que percebeu que estava sozinha na loja, sozinha com a florista que repetidamente tentava falar com ela em vão. em vão, porque ela estava naqueles seus sonhos, ela com ele, sempre ela e esse seu amor impossível.

de volta à realidade pegou no troco esboçando um tímido “desculpe” à dona da loja e saiu. saiu de ramo de flores na mão, e a partir daí as passadas dela eram ainda mais elegantes e parecia que até o trânsito em redor se demorava para a ver passar. a ela, com o seu vestido leve e primaveril, e ao seu ramo colorido. os olhos dela também sorriam, não para essas outras sombras de pessoas que se cruzavam com ela na rua, mas para ele. sim, porque ele, mesmo que ela lutasse contra, estava sempre imiscuido em todos os momentos do dia dela. 

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