embriagava-se às vezes. mais do que estar sozinha sentia-se solitária, e devagarinho deixava o entardecer e aquela luz terna que cai antes de chegar a noite entrar pela janela da sala fazendo-lhe companhia. começava por beber algo como que para simplesmente celebrar o dia e a vida, embalava-se com um copo de vinho a olhar o infinito e a imaginar-se com ele, mas depois chegava a noite e com ela a ideia de que ele poderia estar com alguém. essa ideia de ele ter alguém que não ela pesava-lhe demais, parecia uma ideia falsa, mas era demasiado tempestuosa de imaginar. então enchia copo atrás copo, começando a deixar de sentir o próprio corpo. balançava-se entre a sala e a cozinha mas não conseguia sequer pensar em comida, até que por fim, já meia adormecida de si própria ganhava forças que ia buscar à dignidade do seu próprio ser e dizia “basta”! varria a imagem dele dos pensamentos assim como punha o copo e a garrafa de vinho de parte, atirando-se desajeitadamente para cima do sofá. a partir daí sorvia qualquer programa vindo de uma qualquer canal, sentindo que lentamente os olhos se semi-cerravam e que as frases vindas do ecrâ se transformavam em frases parecidas com a voz dele. acabava por cair num sono profundo em que nos seus sonhos ele lhe dizia que não conseguia adormecer sem pensar nela, e então como num sorriso forçado para uma fotografia os olhos dela mesmo dormentes esboçavam um largo sorriso. acordava já noite longa como que a sentir o beijo dele, deixando-se ficar assim nesse limbo até ser dia.
sábado, 27 de março de 2010
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